A Importância do Risco Cardiovascular na Prevenção das Doenças Cardiovasculares
2019-07-31
As doenças Cardiovasculares são a principal causa de morte prematura a nível mundial, sendo a nível dos países desenvolvidos o enfarte agudo do miocárdio (EAM) a principal causa de morte, seguindo-se o acidente vascular cerebral (AVC).
Na Europa, a doença cardiovascular é responsável por 42% dos óbitos de mulheres e de 38% dos óbitos de homens, nas mortes que ocorrem antes dos 75 anos.
Com o controlo dos fatores de risco cardiovascular e melhoria do tratamento ao longo dos anos, a mortalidade cardiovascular tem vindo a diminuir na maioria dos países europeus, continuando contudo elevada nos antigos países de leste.
Em Portugal a principal causa de morte é o acidente vascular cerebral (AVC) e não o enfarte agudo miocárdio.
Com as alterações introduzidas na área de saúde na década de 70, nomeadamente no tratamento e na prevenção, verificou-se o aumento significativo do tempo de vida dos portugueses e uma diminuição, embora mais recente, de mortalidade por AVC. Contudo, esta continua a ser a doença que mais afeta os portugueses.
A prevenção destas doenças deve começar na formação do ser humano e continuar até ao fim da sua vida. O investimento no tratamento, na maioria dos casos, fica restrito ao tratamento agudo da doença, quando esta se manifesta e nas suas consequências, protelando as medidas preventivas.
As doenças cardiovasculares são provocadas pela presença no indivíduo de vários fatores de risco cardiovascular. Estes fatores podem ser caracterizados em fatores mutáveis e não mutáveis. Não é possível alterar o sexo, idade e carga genética que se herda, no entanto é possível alterarmos fatores como a hipertensão arterial, tabagismo, obesidade, sedentarismo, dislipídemia, diabetes, stress e os fatores de riscos psicossociais. Ao conjunto destes fatores, que se associam ou até se potenciam, chamamos o risco cardiovascular de um indivíduo ou seja, o risco que o indivíduo tem de a 10 anos ter uma complicação cardiovascular (CV), ( AVC, enfarte agudo do miocárdio, doença arterial periférica, insuficiência renal crónica).
Atitudes que visem a prevenção e a melhoria dessa carga risco, previne ou atrasa o aparecimento de eventos cardiovasculares.
Dos fatores de risco enumerados a Hipertensão arterial é o mais prevalente. As complicações de hipertensão arterial provocam, em todo o mundo, anualmente 94 milhões de mortes. A Hipertensão é responsável, pelo menos, de 45% das mortes de causa cardíaca e de 51% das mortes por acidente vascular cerebral.
Em 2008, em todo mundo, aproximadamente 40% dos adultos com idade superior 25 anos tinham o diagnóstico hipertensão arterial. Em 1980 havia conhecimento de apenas 600 milhões, número que se elevou para um bilião em 2008. Este aumento da prevalência de hipertensão arterial parece estar associada ao aumento da população ao seu envelhecimento e aos fatores de risco CV comportamentais tais como, estilo de vida sedentário, dieta não saudável, excesso de peso, excesso consumo de álcool e stress permanente.
As consequências adversas da hipertensão são agravadas por várias razões. Primeiro, a hipertensão arterial raramente provoca sintomas nas fases iniciais da doença o que leva ao atraso do seu diagnóstico, segundo, cursa associado a outros fatores de risco que se potenciam e aumentam a possibilidade de aparecimento de eventos cardiovasculares.
A hipertensão arterial por ser uma doença silenciosa tem uma baixa adesão á sua terapêutica. O doente não adere por não entender a necessidade do mesmo.
O tratamento da hipertensão arterial é importante em todas as idades mesmo nos indivíduos com idade superior 80 anos. Para além do tratamento médico é sempre necessário associar as medidas não farmacológicas como, dieta DASH ou a dieta mediterrânica, exercício físico e redução de peso, medidas estás que contribuem por si só para descida tensão arterial.
A título de exemplo, da importância do controle da tensão arterial, estudos sobre diabetes tem demonstrado, ser tão ou mais importante, o controle dos valores tensionais do que o controle da glicémia, uma vez, dos estudos efectuados, o controle da glicémia demonstrou reduzir essencialmente as complicações micro vasculares, enquanto o controlo tensional tem um efeito benéfico sobre as complicações micro e macro vasculares.
Outro fator de risco é o tabagismo. Nos doentes fumadores ativos o tabagismo está presente em 50% das causas de mortalidade, sendo metade delas de causa cardiovascular.
O tabagismo está associado ao aumento de risco de todas as complicações Cardiovasculares (CV), nomeadamente o enfarte do miocárdio, o AVC, a doença arterial periférica e aneurisma da aorta abdominal.
Tradicionalmente o tabagismo era associada ao sexo masculino, hoje em dia verifica-se um crescente aumento de mulheres fumadoras ativas. Atualmente o risco associado ao tabagismo é proporcionalmente superior na mulher comparativamente com o homem. Este facto parece estar relacionado com as diferenças do metabolismo da nicotina na mulher, mais rápido que no homem, principalmente nas mulheres que tomam anticoncecionais orais. O risco associado ao tabagismo está essencialmente relacionado com a quantidade de tabaco fumada por dia, havendo uma relação dose/resposta.
O tempo do hábito é outro fator importante e todo tipo de tabaco seja cigarro, mesmo que Light, cigarrilha, cachimbo e charuto são nefastos para o risco de doenças cardiovasculares.
Os fumadores passivos tem também o risco acrescido de doença cardiovascular comparado com o não fumador sem exposição a ambientes de fumo. Um não fumador, que viva com um parceiro fumador tem um risco acrescido em 30% de ter doença CV.
Deixar de fumar provoca logo, em seis meses, uma redução significativa da morbilidade. Pode-se afirmar que, em relação ao risco cardiovascular, um ex-fumador se aproxima, apenas, ao fim de dez 15 anos de um não fumador, não chegando contudo a iguala-lo.
A Nutrição é outra condição que afeta direta ou indiretamente o risco CV. Uma das dietas considerada como benéficas é a dieta mediterrânica, que compreende a ingestão de fruta, vegetais, legumes, peixe, gorduras não saturadas (especialmente azeite), consumo moderado de álcool (de preferência vinho, as refeições), baixo consumo de carnes vermelhas e gorduras saturadas.
Meta análises demonstraram que, uma grande adesão a dieta mediterrânica se associa a uma diminuição de 10% da morbilidade e mortalidade CV e a uma redução dia 8% da mortalidade em geral.
O benefício da dieta, como forma de prevenção das doenças Cardiovasculares, explica-se pela diminuição dos valores tensionais, dos níveis de colesterol e por uma contribuição direta.
Na dislipídemia a presença do colesterol elevado, principalmente de LDL, colesterol oxidado (aquele que se deposita nas paredes dos vasos e origina as placas ateroescleróticas), encontra-se entre os principais fatores de risco CV.
A hipertrigliceridemia e a presença de HDL baixo, são já fatores de risco independentes para a doença CV.
Em prevenção primária, tratar medicamente a presença do colesterol total (CT) , mais especificamente o LDL elevado, deve ser considerada se esse risco CV for acima dos 5%, não havendo dúvidas de atuação se o risco for acima dos 10%. Na prevenção secundária é sempre prioritário o tratamento da dislipidémia de preferência com estatinas.
Atividade física regular, associa-se a uma redução do risco CV nos vários tipos de indivíduos, indivíduos saudáveis, indivíduos com fatores risco coronário e doentes cardíacos. Pelo contrário estilo de vida sedentário é um dos maiores fatores de risco para a doença CV. Em indivíduos saudáveis, o beneficio da atividade física, pode atingir uma redução 30% de todas as causas de mortalidade cardiovascular. Exemplos dessa atividade física não envolvem só desportos, corrida, ciclismo, natação, remo, mas também atividades comuns do dia-a-dia como subir escadas, jardinagem, vida da casa, ente outras.
Assim, atividades de intensidade moderada a intensa, ou mesmo por vezes vigorosa, em doentes com doença cardíaca conhecida, como por exemplo angina de peito estabilizada, um programas de exercício físico com duração de pelo menos três meses , tem demonstrado em meta análises uma redução de 30% da mortalidade cardiovascular . Esse facto tem sido observado particularmente no caso dos doentes com insuficiência cardíaca por má função ventricular. Observa-se ainda uma menor incidência de reinternamento hospital, principalmente nos doentes com insuficiência cardíaca de causa isquémica. Deve-se, contudo, realçar que o exercício físico, nos doentes com doença cardíaca, deve ser sempre supervisionado.
Perante um indivíduo, com ausência de doença cardíaca, devemos calcular o seu risco cardiovascular, isto é, através da avaliação dos seus fatores risco avaliar a probabilidade de a 10 anos ter um evento cardiovascular. Existem tabelas que avaliam esse risco, a mais usada é a tabela de SCORE de risco. Nesta tabela, o risco superior a 5% merece uma atitude interventiva mais agressiva, que pondera já tratamento medicamentoso. Na presença de doença cardiovascular o tratamento dos fatores de risco é já uma atitude essencial e mais agressiva pois dela depende o evitar um novo evento CV
Tratar doença CV começa antes de tudo pela prevenção, o que significa controlo apertado dos factores de risco CV e atitudes de vida saudável. Depois da doença CV declarada é apenas minorar os estragos já existentes de um percurso por si só já limitado.